quarta-feira, junho 27, 2012

Novidade: golpe "democrático" de Estado no Paraguai

Seria engraçado, se não fosse triste, que quando do meu retorno a trabalhos neste blog vou emitir opinião sobre um assunto ligado ao anterior. Passados um ano e meio e a América Latina se vê em meio a um novo tipo de ataque contra a democracia: O golpe amparado em Constituição.
Em verdade afirmo que sou cético quanto ao senhor Fernando Lugo, que era o exmo. Presidente do Paraguai, entretanto, eu não tenho como deixar de manifestar minha opinião contrária a forma estranha de seu impeachment.
Voltamos ao assunto do impedimento mais adiante, pois antes vamos conhecer um pouco da história do Paraguai. Um país pequeno, sem saídas para o mar e que obteve a sua independência da Espanha em 15 de Maio de 1811, ou seja, onze anos antes do Brasil obter a sua de Portugal. Era o centro do antigo Vice-Reino do Prata (colônia da Espanha), mas que começou a perder prestígio com as emancipações políticas dos vizinhos sul-americanos.
Em 1814 passou a ser governado por um ditador chamado Francia. Com ele o país se isolou como meio de evitar a influência externa, principalmente de Brasil e Argentina. Obteve neste período significativa auto-suficiência digna de fazer frente as pujantes monarquias européias e certamente em um estágio de desenvolvimento superior aos vizinhos do continente. Em 1862 assumiu Francisco Solano López que invadiu terras do Brasil e Argentina. Em resposta, com ajuda financeira da Inglaterra, o Brasil, a Argentina e o Uruguai formaram a Tríplice Aliança e destruíram o país vizinho.
Sucederam-se ditadores e governos fracos por anos até que em 1932 o Paraguai entra em nova guerra, desta vez com a Bolívia pela região do Chaco Boreal (norte do Paraguai), região onde ocorria um litígio de terra entre as duas nações e que para piorar ainda existia um boato sobre supostas reservas de petróleo. Terminada a Gerra do Chaco em 1935 o Paraguai descobre não existir um único barril de petróleo na região.
Novas ditaduras e governos fracos até que em 2008 vence a eleição o senhor Fernando Lugo, rompendo com a tradicional disputa entre Colorados e Liberais (partidos majoritários das oligarquias do local).
O governo do Presidente Lugo é ferrenhamente combatido, tendo a vida pessoal deste ex-padre sido minuciosamente esmiuçada, inclusive tendo se encontrado um filho com um suposto caso antigo do mesmo. Fatos interessantes como este, são comuns em um estado democrático de direito, onde existe a liberdade de imprensa. Infelizmente, o que não ocorre é a vontade da dita imprensa livre em aprofundar investigações quando os governantes são amigos ou pessoas de interesse dos donos dos meios de comunicações. É a famosa censura invisível, transmitida pelo dono da imprensa a seus jornalistas de forma oral quando todos se encontram trancafiados dentro das redações. No caso Paraguaio não é diferente e desta forma uma mentira é dita muitas vezes até se transformar em uma verdade.
E vem agora o ponto central deste impeachment que desejo tratar: A forma vil que as oligarquias adotam para governar, instrumentando o estado com regras e leis dignas das piores deturpações da democracia. Imagine você chefiando um estado com sete milhões de habitantes, onde em uma revolta morrem 16 pessoas e que isto seja motivo para o seu afastamento sumário sob justificativa de incompetência administrativa? É no mínimo uma palhaçada. É óbvio que uma imprensa, que sempre fez vista grossa para ditadura, corrupção e outros delitos, mas que foi eficiente em noticiar sobre o filho desconhecido do Presidente, também o seria para criar uma situação de pânico digna de uma guerra. Um congresso formado quase que exclusivamente por oligarquias também seria uma forma ineficaz de justiça e me parece óbvio que os desdobramentos que ocorreram seriam os que de fato iam ocorrer com desfecho no impedimento do senhor Fernando Lugo e com a posse do senhor Frederico Franco.
Vamos aguardar como será a reação da Unasul e do Mercosul, embora, a imprensa "livre" do Brasil e do exterior esteja notoriamente tentando esfriar de forma conveniente. Por ironia, ao terminar este texto tive o desprazer de assistir a opinião do senhor Arnaldo Jabor, no jornal da Globo de 26 de Junho passado, que foi de um partidarismo barato tipo Carlos Lacerda e de uma arrogância digna de uma mistura de colunista Diogo Mainardi com General Pinochet. Tal opinião barata aponta para minha suposição contra a política le ́ce faire le ́ce passer (deixa fazer deixa passar) da imprensa tupiniquim.
E assim segue as oligarquias latinas, traindo a democracia em prol de si mesma, como se uma sociedade mais justa não fosse ser benéfico para todos, inclusive para os eternos donos do poder, que de forma estúpida preferem manter o povo na pobreza e serem vassalos de sociedades mais desenvolvidas.

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